Pudor

De segunda à sexta sigo a jornada exaustiva de trocar o pijama do Lucas pelo uniforme da escola. Hoje, ao invés de gritar, chantagear e afins, olhei para o garotinho que vestia apenas a camiseta, a blusa e a meia (sem calça e cueca) e disse:

— Então, já está pronto para ir à escola! — Dobrei a calça e sai de cena.

Ele ficou desesperado, quase chorando disse:

— Nãooooo!!! Eu não posso i sem caça. Eu to peiado.

Gostei da situação e aproveitei para instigar:

— E daí, Lucas? Por que não pode ir assim para a escola?

— Eu to peiado! Eu to peiado! — Ele repetia desesperado, como quem toma a situação como tão óbvia que dispensa qualquer explicação.

O Rafa veio intervir:

— Mãe, ele não pode ir assim para a escola. As pessoas vão rir dele.

— Então esse é o problema Rafa? As pessoas rirem dele?

O João que até então observava resolveu entrar na discussão filosófica matinal:

— Filho, então se a gente for em uma praia onde todo mundo anda pelado. Aí tudo bem? Você vai pelado?

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O Lucas todo animado, e com a audição seletiva de quem só ouviu PRAIA, foi logo respondendo:

— Eu vou! Eu vou! Paia! Eba!

E o Rafa de braços cruzados, já irritado com a gente, foi categórico na resposta:

— Eu vou de sunga!

Falando FRANcamente, de onde vem todo esse pudor? Como é que as crianças se apropriam de tantas regras sociais?

Não estou aqui defendendo o naturalismo, ainda mais em Curitiba! Apenas, achando curioso investigar o que pensam os pequenos sobre as normas que regem nosso convívio.

Já perguntou para o seu filho o que ele pensa sobre algumas coisas? Temos sempre o hábito de impor como tudo funciona, das regras mais simples às mais complexas. Mas, você já perguntou o que o seu filho, mesmo tão pequeno, entende disso tudo? Ou ainda, já perguntou à você mesmo o que pensa disso tudo? Se fosse para fazer do SEU jeito, faria igual ao que lhe ensinaram?

Think about it!

Ele sempre me quebra

Por que o mundo dos adultos é sempre tão urgente? “Vamos de uma vez!” , “Guarde logo isso aí.”, “Pare de se enrolar, arrume rápido essa bagunça.”.

Eu queria ter mais paciência antes de gritar. Queria respirar fundo mais uma vez antes de bufar, revirar os olhos ou ser grossa com eles por besteira.

Como em um dia desses, eu estava  cheia de urgências, cena típica de uma mulher multitarefas (cozinhando, limpando, atendendo às crias, respondendo emails…) O Lucas me disse que estava com sede. Uns 10 minutos depois, perguntei:

— Lucas, você quer água ou suco?

Nenhuma resposta!

Já sem paciência, falei mais alto e mais ríspida:

— Lucaaas, quer água ou suco?

Ele não me respondeu, mas olhou para mim daquele jeito bem traquina. Eu já totalmente irritada, perguntei pela 3.ª vez:

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—Lucas, responda! O que você quer?

Ele olhou bem para mim, sorriu e começou a cantar:

— “Eu quero festaaa, eu quero sambaaaa, eu quero festaaa, eu quero samba, viver assiiimm…” — trilha sonora da animação Rio.

Caímos os dois na gargalhada. Falando FRANcamente, ainda bem que os filhos nos perdoam tão rápido quanto perdemos a paciência com eles.

Quando eles ficam mais espertos que nós

“Não vai aí que o bicho papão te pega!”, “Não saia de perto de mim que o homem do saco te leva.” são frases que eu nunca disse! Eu sempre preferi conversar com os meninos mesmo quando eles eram bebês: “Lá é perigoso. Você vai arriscar?”, “Isso está quente, quer se queimar?”, “Quer ir para o hospital tomar injeção?”… E acho que funcionou muito bem, hoje as crises de birra são raras e há muito diálogo.

Mas a técnica pode ser bem “perigosa”, afinal ensina a pensar e pensando não se aceita sem antes questionar. E com isso tenho vivido experiências com o Rafael e o Lucas que me envergonham e muitas vezes me espantam.

O Lucas é do tipo “reforçado” adora comer! O que presta e o que não presta também!

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Depois de experimentar batata palha em dia de strogonoff, ficou apaixonado pela gordura deliciosa e saturada, e claro, queria se encontrar com ela no prato todos os dias. Eu fui logo argumentando “Todos os dias não dá, filho! Faz mal para a saúde e deixa a gente gordo, você quer ficar gordo e doente?” E ele tomou essa verdade de tal forma, que começou a dizer para os outros sua nova descoberta. Assim em um belo dia, o avô ofereceu “Quer batatinha palha, Lucas?”. Ao que ele respondeu “Não vovô! Batatinha todo dia deixa goido.”. E após contemplar o velinho por alguns segundos, bateu as mãozinhas na barriga do avô e disse:

— Você comeu bastaaaaaante batatinha, né vovô?

(Para os chatinhos de plantão: longe de ser gordofóbica, estou apenas prourando evitar a obesidade infantil. Formando hábitos alimentares conscientes.)

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Mas, pior mesmo é o Rafael. Cada vez fica mais difícil vencer uma discussão. Novamente o cenário é o jantar, fiz carne refogada com tomate, e ele começou a separar no prato com cara de nojo e dizer a famosa frase infantil “Não gosto disso!”. E eu como autêntica mãe, apelei logo para a chantagem:

— Rafael, vou ter que falar de novo? Enquanto você fica aí fazendo cara feia para a comida que eu fiz com todo o carinho, na rua tem um monte de criancinhas que ficam com a barriga doendo de fome. Sabia?  (#drama)

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— Huuum, então que tal levar esse tomatinho frito para elas hem mãe? Elas iam adorar né? Eu só gosto do tomate na salada.

Fiquei sem argumentos e fomos ao circo. Eu evitando dar trela para os vendedores de tranqueiras, e o Rafael querendo mexer nos brinquedos. Eu repreendi brava:

— Não Rafa! Você não vai lá! Não tenho mais dinheiro! Gastamos bastante nos ingressos e no algodão doce. Fique aqui!

— Mãe, eu tenho o DIREITO de fazer amizade com as pessoas!

E lá se foi: bater papo com os vendedores, manipular os brinquedos à venda, enquanto de longe fiquei observando:

— Pede lá para a sua mãe comprar para você!

Ao que o Rafael respondeu sem paciência:

— NÃO! Ela não tem mais dinheiro, não vai comprar!

O que eu ia dizer?  Por que eu iria interferir? Ele tinha mesmo razão e soube se virar sozinho. Entendeu as limitações da situação, mas não deixou totalmente de lado o que queria.

Perco muitas discussões mas Falando FRANcamente, no final das contas acho que vale a pena! É muito recompensador quando o pequeno gafanhoto supera o mestre.

 

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Rafa, Raul e a metralhadora

Dias atrás em uma reunião do Clubinho da Lulu fui motivo de chacota das amigas “Como assim você nunca ouviu a música da metralhadora?” Gente, juro, não tinha ouvido mesmo! Isso sempre acontece quando vou à manicure ou cabelereira e elas insistem em dar referências da personagem x da novela y e eu fico com aquela cara de brasileiro ouvindo alguém falar mandarim. Isso porque a última novela que assisti foi “O clone” e nem era reprise do Vale a pena ver de novo.

Eu me acho melhor que os outros? Não! Os outros me acham estranha ou exibida? Provavelmente. Eu me importo? Nem!

A questão é: que eu fiquei assim! E essa forma de ser, influencia mesmo sem querer os meus filhos. Estou tocando neste assunto, porque muitos ficam encantados quando ouvem o Lucas (de 3 anos) cantar “Beleza pura” do Caetano, declamando palavras como “Federação”. Ou quando ele pede “A Banda” do Chico Buarque. Então as pessoas me perguntam como eu faço para educá-los dessa forma, e Falando FRANcamente a resposta é simples: Eu ouço música! E são essas as referências que eles têm.

Hoje mesmo, pela manhã, estava fazendo faxina com o Rafael em casa, quando me deparo com essa cena:

 

E eles seguem assim, influenciados pelas referências que têm…

She Love You, ié ié ié

Tem que ser saudável, perfeito, bonito, gordinho, inteligente, que durma a noite toda… Já na gravidez fazemos uma lista interminável do que esperamos do filho que ainda nem tem formas definidas.

Aí ele nasce e continuamos querendo influenciá-lo com nossas crenças, ideais, gostos e hobbies… Normal.

Há 4 coisas que espero dos meus filhos, descaradamente:

Que não comam porcaria (não muito, pelo menos);  Que apreciem mais a natureza  que a tecnologia (ou tanto quanto);

Que  amem os livros (isso é inegociável!) e que gostem de música boa! (que eu considero boa, no caso).

20151119_200346E devo dizer que esta última era a que eu mais temia, porque fora de casa o meio não ajuda em nada. Dá para entender e rir sobre esse meu medo em:  Eu quero um bea… Eu quero um tles

Mas aí, percebi que de fato o exemplo é o melhor mestre (desculpem o clichê, mas é verdade!). Eu simplesmente parei de me preocupar com o que eles gostavam de ouvir, e continuei ouvindo o que eu gostava, em casa, no carro…

E eis que uma noite me deparo com esta cena:

Falando FRANcamente, não tenho com o que me preocupar, porque não preciso criá-los para serem o que espero deles, mas para que eles saibam o que querem ser!

Soneto da Maternidade: Parte II

Já me esqueci de ministrar um remédio.

Assisti desenhos bocejando de tédio.

Duvidei que ter filhos é um privilégio,

para em seguida me condenar “que sacrilégio!!!”

Já tive preguiça de no jantar pôr a mesa,

chantageei, sem vergonha, com a sobremesa.

Pois, o que eu quero é o que toda mãe deseja:

que o filho prove de tudo, do repolho à cereja.

E no final do dia, já bebi uma cerveja,

brindando: “que a moral não me veja.”

“que essa criança, cedo adormeça!”

Mas meu amor é refortalecido,

 todo o cansaço fica esquecido,

quando contemplo meu anjo adormecido.

Crie um leitor em 5 passos

 

Ensine uma criança a amar um livro e não será necessário obrigar um adulto a ler.

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Fosse eu uma filósofa ou uma pessoa mais importante poderia postar essa frase com uma foto minha, bem posuda e cheia de razão, no Facebook, mas como singela mãe, pedagoga e blogueira venho compartilhar dicas de uma experiência de sucesso.

COMECE CEDO

Rafael com 10 meses

Há uma infinidade de livros infantis: coloridos, sonoros, interativos, com texturas, figuras que mexem os olhos, dedoches, etc. Nessa fase o importante é despertar a curiosidade. Não espere que de início o bebê atenda às suas expectativas. Com certeza ele irá babar, comer, amassar e rasgar muitas páginas até entender o que é um livro. Faz parte do processo! Quanto antes você permitir e mediar esse contato, mais cedo a criança aprenderá a respeitar um livro.

LEIA VOCÊ!

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Um exemplo educa muito mais que mil palavras. Se seu filho se acostumar a ver você lendo, irá se interessar por essa ação; e se os livros fizerem parte desde cedo do cotidiano da família, a criança achará o ato de ler tão natural quanto andar ou falar e vai entrar no mundo letrado sem estresse.

VISITE BIBLIOTECAS

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Com certeza a sua cidade tem alguma! E os ambientes infantis costumam ser atrativos e aconchegantes. Encante com a infinidade de livros disponíveis. Faça uma carterinha para o seu filho e explique sobre o empréstimo. Ele vai adorar levar um livro para casa e cuidar dele.

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COMPRE LIVROS

De vez em quando dá para substituir a compra de um brinquedo por um livro.  Muitos livros são tão legais que até parecem brinquedo. Os sebos e feiras são uma ótima oportunidade para essa experiência em que a criança pode escolher qual item comprar e assim cria o hábito de compor sua própria biblioteca sem gastar muito. Até porque eles adoram ler e reler a mesma história infinitas vezes.

LEIA PARA SEU FILHO

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Esse é, sem dúvida, o hábito mais importante! Rafael e Lucas ainda analfabetos, adoram ler! Decoram as histórias de seus livros preferidos, leem um para o outro e até para o cachorro.

Faça dessa hora um momento mágico, entone a voz, faça barulhos e onomatopeias sem medo de parecer boba, a criança precisa se encantar pela história e você sabe que conseguiu isso quando ela pede para ver de novo e de novo e de novo. Coloque seu filho bem pertinho de você, abandone o celular e permita que esse momento seja afetivo. Além de prazeroso para ambos, pesquisas mostram que o amor abre os caminhos cerebrais para novas aprendizagens.

E o resultado é esse aqui:

Soneto da Maternidade: Parte I

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Toda mulher quando quer engravidar

põe as pernas para cima depois de transar,

faz mandinga, simpatias, lê de tudo para não errar,

exaspera-se na torcida para a menstruação não chegar.

 

Toda grávida deseja saber qual o sexo do bebê.

Já de início se empina toda, para a barriga aparecer.

Cuida de tudo com esmero, para de nada esquecer.

Na contração nem imagina o que ainda vai lhe acontecer.

 

Toda mãe já saiu na rua com o peito de fora,

cansada, torceu para a visita ir embora,

ficou sem entender: porque tanto um bebê chora.

 

Toda mãe ficou com estria na barriga,

com uma noite mal dormida,

mas, com um amor para toda vida.

É opcional

Chegando da escola:

— Rafa, você está com fome?

— Mãe, sabe um jeito de dizer que tá com fome?

— Qual?

— Faminto! Eu estou faminto.

— Poxa! Que legal! Faminto é com fome então?

— É!

— E você está faminto?

— Sim, mãe. Eu só comi o pão na escola, eu não quis o nescau, porque nescau eu só tomo à noite.

— Ah, Rafa! Mas, você só comeu um pãozinho então?

— Sim, mãe! O nescau era opcional!

Faminto? Opcional? Ainda fico abismada com certas palavras que o Rafa usa aos 4 anos de idade, sem ter certeza de onde vem. E pensar que até os dois anos e meio ele só dizia “alu” para a lua e “a a a” para água.

Criar os filhos tem disso: dar todo o estímulo possível, mas de forma prazerosa! Sem cobrar excessivamente. Sem afogar a paciência num rio de ansiedade.

 

O bom mesmo é não comparar com o filho dos outros (quem nunca?) Não esperar que ele conte até 100, seja alfabetizado, saiba inglês e toque um instrumento musical aos 3 anos. Sabe aquela premissa: quanto antes ele aprender o máximo de coisas, melhor? Não levo à risca…

Falando FRANcamente, posso ter uma concepção simplista de educação, mas acredito que infância é para brincar, que o exemplo ainda é o melhor professor e que tudo tem seu tempo. Pelo menos, tem dado certo por aqui…

 

 

Geladeira

Rafael em casa, come o dia todo:

— Mãããe, quero uva!

— Pega na geladeira! — Gritei da lavanderia.

— Mãe, tem yakult???

— Pega na geladeira! — Gritei do escritório.

— Mãeeeeee, ooooh mãe, to com sede.

— Ué, pega o copo, e abre a torneira! — Falei com a vassoura na mão, atrás dele, na cozinha.

— Mas, eu gosto de água geladinha.

— Então pega na geladeira, filho!

— Ah, mãe! Essa geladeira faz tudo com amor, né?

E não é que faz mesmo?

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